quinta-feira, 30 de junho de 2011

"Socialismo" x "Capitalismo"

A proposta do vídeo retoma discussões salientadas no blog,  faz uma análise entre o capitalismo e o socialismo real (ou capitalismo de Estado). Sua intenção questionar ambos.







REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

http://www.youtube.com/watch?v=GzgX3a0QVkM&feature=related

Entrevista de Aleida Guevara à Folha de São Paulo - PARTE 2 (comentários dos blogueiros)

Os comentários de Aleida, que além de filha de "Che", é militante de base do Partido Comunista Cubano, são muito interessantes e nos levam a várias reflexões. Bem como as perguntas da repórter da Folha de São Paulo, Eleonora de Lucena, que demonstram uma certa tendência - óbvia - antissocialista.

Faremos então um comentário relacionado a cada grupo de perguntas e respostas reproduzidas na postagem anterior. A entrevista não foi apresentada em sua totalidade, mas pode ser lida em


Nas primeiras perguntas, ao discutir a crise pela qual passa a economia cubana, Aleida ratifica o que a historiografia discute atualmente sobre os regimes políticos ditos socialistas. A exploração pode não ter acabado totalmente. Os meios-de-produção não são coletivos e sim Estatais. Logo, os cubanos trabalham para o Estado e, pelo que consta, indiretamente para toda a sociedade. E a fase da "ditadura do proletariado", que seria apenas uma etapa da revolução, ainda não foi abandonada.

A própria Aleida se diz temerosa quanto as reformas sociais feitas em Cuba, que vão no sentido da permissão de propriedade privada e dos trabalhadores livres. A pediatra teme que esses trabalhadores livres se transformem em "pequenos-burgueses", como dizia Marx. Ou, trocando em miúdos, que se crie uma classe média, individualista e sem consciência social. Aleida parece não confiar plenamente no espírito humano e certamente pensa que o homem novo que propunha Lukács ainda não está pronto.

É interessante também a insistência da entrevistadora na direção de atestar que o regime cubano é ditatorial. Nesse sentido Aleida demonstra que há sim algum grau de democracia na Ilha. E aponta coloca o dedo em uma ferida da nossa democracia pluripartidária, que depende de escolhas partidárias prévias e, na maioria das vezes, de grandes montanhas de capital. Partidos maiores e mais ricos, mais tempo e recursos para uma boa propaganda política na TV. E isso claramente se traduz em mais votos e vitórias. É evidente que para nós o regime de Fidel é ditatorial em certa medida. Mas até que ponto o nosso modelo é tão democrático? 

E ao discutir os presos políticos, Aleida aponta outro dedo em nossa ferida. Por que nós tratamos os presos políticos que lutaram contra o regime de Cuba como vítimas e os que lutam contra o nosso, como o caso de do italiano Cesare Battisti, como terrorista e assassino? Em um tempo de tanto relativismo, por que ainda insistimos em apontar o dedo para as feridas alheias se as nossas ainda sofrem de uma hemorragia incessante? Ou será que podemos ser relativistas quanto a questões culturais? 

O fato é que parecemos sofrer de uma analgesia congênita. Estamos entorpecidos, cegos, fechados em bolhas de interesses individuais. Estudamos, trabalhamos, compramos, bebemos, fumamos, festejamos, assistimos... E vamos para as ruas protestar contra a homofobia  e/ou a favor da liberdade do uso da maconha; ou paramos a Paulista para marchar em prol da nossa religiosidade, que é homofóbica e contra qualquer tipo de drogas. Ou vamos às ruas (e urnas) para salvar a natureza, mas só andamos de carro e trocamos de celular todo semestre. As lutas estão, de fato, particularizadas. Então, as novas utopias também estão individualizadas. Muito, é claro, por culpa da "velha" não englobar (e até excluir) possíveis grupos interessados e afetados por esse sistema excludente. Com efeito, pensamos ser necessário, primeiro, acabar com a analgesia congênita que nos assola. Precisamos reconhecer o inimigo. Saber contra quem lutar. Apropriando-se de uma metáfora da ficção científica cinematográfica, precisamos saber que a luta é fora da Matrix. Mas primeiro, precisamos saber que estamos dentro dela. Mas isso é difícil, a medida que o mundo real é muito mais cinza do que o virtual e a coxa de frango, apesar de falsa, é mais saborosa que a gororoba nutritiva que se come na realidade....

Assim, encerramos essa postagem com um pequeno texto de João Bernardo, que é polêmico e resume nossas idéias:


A propósito do filme de Chico Teixeira, A Casa de Alice

João Bernardo - Domingo, 6 Abril, 2008

Tive um amigo que distinguia a pobreza e a miséria. A pobreza, dizia ele, resolve-se com dinheiro. A miséria é outra coisa. Pobreza é não ter que comer, viver num barracão esburacado ou dormir no abrigo de uma caixa de multibanco, ter a roupa em farrapos, e com dinheiro compra-se comida, calças e camisa e aluga-se um quarto.
A miséria não se resolve com dinheiro. Miséria é não ser escutado por ninguém, não decidir a própria vida, chegar a casa, olhar para quem lá mora e já não ver neles aquilo que outrora se julgava, viver isolado numa teia de conhecimentos superficiais, amigos de café para discutir o futebol, colegas de trabalho que talvez sejam orelhas do patrão, a miséria é não confiar nos outros nem em si próprio, é viver uma vida sem sentido.

Existe a riqueza, claro, mas essa têm-na os capitalistas e não significa só dinheiro, porque a riqueza representa mais dinheiro do que aquele que é necessário para viver muitíssimo bem. Riqueza significa acima de tudo poder, a capacidade de ordenar as próprias vidas e de mandar nas vidas alheias. Enquanto a miséria significa, mesmo de barriga cheia, não dispor de poder nenhum sobre nada, obedecer e não entender aquilo a que se obedece. A miséria, em suma, é ser joguete da história, sem conseguir travar a engrenagem. A miséria é ter inveja dos patrões em vez de lhes ter ódio, é querer subir no sistema em vez de o derrubar, é desconfiar dos colegas em vez de se unir a eles, é viver isolado sem saber que a história existe e que podemos participar nela. A miséria é dizer sim quando se deve dizer não.

O ideal do capitalismo, o paraíso que ele nos promete, consiste em acabar com a pobreza e universalizar a miséria. Paradoxalmente, o pobre, embora seja um fruto do capitalismo, é nefasto para o capitalismo, porque nem é produtivo nem é consumidor. Ninguém trabalha bem com a barriga vazia, um trabalhador ignorante não pode ser qualificado e além disso quem é pobre não compra nada, o que é péssimo para o mercado. Enquanto o trabalhador condenado à miséria compra o que pode e quando deve, e trabalha tal como lhe mandam. É ele o cidadão exemplar.

Dentro do capitalismo não existe saída para a miséria, porque os trabalhadores só adquirem uma dimensão histórica, só entram na história, quando combatem o capitalismo. É então, na preparação de uma greve − para me limitar a um exemplo simples − na mobilização dos colegas, nas discussões, na formação de um piquete, que os olhos se iluminam e a pessoa sente que alguma coisa mudou. Agora temos a capacidade de falar alto e de obrigar os patrões e as autoridades a escutarem-nos, invertemos a engrenagem, somos história. Saímos da miséria.


Entrevista de Aleida Guevara à Folha de São Paulo - PARTE 1

A pediatra Aleida Guevara, filha de um dos maiores mitos comunistas, Ernesto “Che” Guevara, deu uma longa entrevista à Folha de São Paulo, na qual destaca a necessidade e as dificuldades da manutenção do sistema socialista em Cuba. Essa entrevista coincidentemente vem ao encontro a postagem de ontem, sobre o comunismo. Segue abaixo os principais trechos:


E como vão as coisas em Cuba?

Estamos em um momento de buscar solução a problemas reais que temos tido durante muito tempo. Há problemas atuais que o país vive por causa da crise econômica, que atinge todos os países do mundo. Estamos discutindo os problemas com todo o povo, analisando-os nos locais de trabalho, nos bairros. O congresso do partido analisou tudo o que resultou dessas reuniões populares e se chegou a um consenso de que vamos fazer algumas mudanças na economia familiar. Resolver um problema de família, de pessoas que estão sem emprego neste momento porque o Estado não pode seguir sustentando pessoas que trabalham sem produzir. Quando perdemos o campo socialista europeu, Cuba sofreu uma crise brutal e o Estado amparou todo mundo durante todo esse tempo. Agora a situação da economia interna melhorou. Portanto há possibilidades reais para que essas pessoas possam trabalhar independentemente. Não queremos desamparar os que não estejam trabalhando para o Estado. Por isso é que vem essa possibilidade de trabalho individual. Porque nós, pela Constituição, teríamos que analisar quais são os itens da Constituição atual que se chocariam com essas mudanças. Por isso toda essa análise popular, profunda. Se é necessário mudar algum item da Constituição, que o povo saiba o que se está fazendo e porquê. E o plebiscito que se tenha que fazer será faz mais rápido e mais fácil.

O que teria que mudar na Constituição?

Foi acordado na Constituição que Cuba é uma sociedade socialista. Dentro dessa sociedade socialista há normas, regras. Quando se diz agora que há pessoas que vão trabalhar por conta própria, pode ser alugar sua casa, o que não existia. Essas pessoas que agora estão trabalhando por conta própria, se quiserem outras pessoas para trabalhar, que seja pago um salário justo, por lei. Por exemplo: se quiseres alugar um quarto da tua casa e empregaste alguém para fazer a limpeza. Antes esta pessoa não estava protegida por nenhuma lei. Agora, com as mudanças, essa pessoa estará protegida também pelas leis do Estado cubano. Essas leis precisam ser implementadas na Constituição.


O último congresso do partido abriu possibilidade da propriedade privada de imóveis e carros...


Digamos que não é propriedade privada. Eu, por exemplo, se paguei por um carro, ele é meu. O problema é que eu não tinha direito de vendê-lo. Agora tenho. O que mudou é que é permitido ao cidadão que é dono de um carro vendê-lo legalmente. É sua propriedade, é seu direito. Como em relação a casas. Se uma casa é legalmente tua, tu podes vendê-la.


Mas isso é reconhecer a propriedade privada.


Dentro do que já existia, na propriedade individual. Que podes chamar de privada, se quiseres. É tua. O problema é legalizar essa propriedade para que você possa usá-la para o que quiseres.


A sra. não acha que isso se conflita com o princípio socialista?


Não. Isso não tem nenhum tipo de problema com os princípios socialistas. A questão não está em vender a tua casa ou o teu carro ou trocá-lo. Isso me parece que é muito bom que possamos fazê-lo livremente, sem nenhum tipo de trava. A questão está em que agora há trabalhadores por conta própria. Esses trabalhadores vão buscar o seu benefício pessoal. O meu temor pessoal como cidadã a pé eu não tenho nada a ver com a direção do governo cubano; sou uma médica cubana meu temor é que as pessoas que comecem a trabalhar para si mesmas percam um pouco a questão social, a consciência social. Vivendo numa sociedade socialista, nós trabalhamos para um povo. Quando tu começas a trabalhar para o teu bolso, para o teu bem estar pessoal, temos o risco de perder essa conexão social que mantivemos por toda a vida. Essa é a minha preocupação pessoal. O Estado socialista e segue sendo socialista porque não há privatização nos grandes meios de produção. Isso não se tocou e não se vai tocar. O povo cubano segue sendo dono de tudo o que se produz no país. Podes ser dono do que tu fazes em tua casa, um restaurante, um salão de beleza, serviços. Mas os grandes meios de produção, tudo está com o Estado, que, portanto, é do povo. Nesse sentido não há nenhum tipo de mudança.


As reformas foram feitas para tirar do Estado o peso de pessoas que..

Exatamente. De pessoas que vão ficar sem trabalho pelo Estado, porque o Estado não pode seguir sustentando essa situação. Temos feito melhorias econômicas. Essas pessoas ficam livres de trabalhar para o Estado e ter o seu próprio trabalho. E o Estado sai dessa tensão de manter alguém que não estava produzindo.


O seu temor é que essa reforma, que pode ser lida como mais 
privatizante, afete a consciência social?


O homem pensa segundo vive. Essa é a preocupação, simplesmente. Se você está vivendo somente interessado em melhorar a tua casa, em melhorar a quantidade de dinheiro que tem no bolso, em melhorar a vestimenta, você se esquece que a escola infantil da esquina, onde seus filhos e netos estudam, precisa de uma mão de pintura. Você será capaz de deixar um pouco desse dinheiro para doar à escola? Se você é capaz de fazê-lo, eu calo a boca e sou feliz. Essa é a minha preocupação: que você perca essa perspectiva, que não se preocupe com a perspectiva de comunidade social, que é o que nós somos e pelo que seguimos vivendo.


Como a sra. responde aos que dizem que Cuba é uma ditadura, não há liberdade de imprensa?


É simplesmente uma falta de conhecimento total da realidade cubana. Nós temos eleições populares, muito mais democráticas do que qualquer outro país. Porque é o povo que elege diretamente os seus candidatos. Desde a base. Não há organizações políticas que digam: é esse, esse. É o povo quem diz. Uma reunião de vizinhos diz: fulano e fulano. E explicam porque propõem. Cinquenta por cento mais um da assembleia reunida têm que dar a aprovação. Se a pessoa é aprovada, ninguém pode derrubar essa aprovação. É uma decisão do povo. Então esse passa a ser candidato.


Como justificar a questão da oposição, dos presos políticos, as 
damas de branco?


Meu Deus! O conceito de preso político é presos por suas ideias. Em Cuba não existem esses presos. Em Cuba existem presos por ações contra o povo. Ações de delito. Colocar, por exemplo, veneno na água de uma escola infantil é terrorismo. Esse está preso. Incendiar a telefonia de Cuba. Isso o que é? É uma ação terrorista.


Então não existem presos políticos; existem terroristas presos?

Existem terroristas. Existem os que fazem isso do ponto de vista econômico também. Porque vivemos com o bloqueio dos EUA. Nos últimos anos, eles têm aplicado a lei do bloqueio de outras formas mais sofisticadas.


Como é a sua vida? Como é conviver com a herança de Che?

Tenho 50 anos, duas filhas. A maior tem 22 anos, acabou de se graduar em economia em Havana. A segunda tem 21 anos e está terminando seu terceiro ano de medicina. É o tesouro maior que tenho como ser humano. Trabalho muito com crianças, sou pediatra. Trabalho também numa escola para crianças com necessidades especiais em Havana. Que também me fazem muito feliz, me fazem melhor ser humano todos os dias. Pois são crianças muito especiais, com uma grande capacidade para amar. Trabalho também em casas de amparo. Dou consultas como médica, trabalho no centro de estudo Che Guevara, levando a imagem de Che. Meu salário é como medica, especialista de primeiro grau.


Há machismo em Cuba?


Sim, há algo. Superamos muito com a revolução. Fizemos um giro de 180 graus. Não é possível arrancar tudo de uma vez. É lento. É possível fazer mudanças econômicas e sociais num estalar de dedos, mas mudanças mentais levam tempo. A geração das minhas filhas é muito mais forte, Sabem quem são e para onde vão. Também os homens têm hoje um conceito muito mais aberto. Temos avançado muito. A dupla jornada de trabalho da mulher vai diminuindo.


Como lidar com o mito Che?


Mito, não. Quando falas, por exemplo, de Cristo, é muito distante do ser humano, não sabes se existiu ou não. Che não pode converter-se num mito. Ele era um homem como qualquer um de nós. Isso é o que o faz bonito, completo. Que sendo humano, com todos os problemas e deficiências humanas, soube ser um ser humano melhor. É o que queremos que nossos filhos entendam, aprendam. E que consigam seguir esse exemplo de vida, de ação, de honestidade, de integridade como ser humano.



quarta-feira, 29 de junho de 2011

Utopias que ficaram pelo caminho - PARTE 4: o comunismo

Como já citado no texto de inauguração do blog, consideramos o fracasso do regime soviético e a queda do Muro de Berlim como marco para o fim da última grande utopia humana até então.

O comunismo é um pressuposto filosófico que teve seu sentido teórico impulsionado por Karl Marx e Friedrich Engels, no século XIX. Entre os pressupostos comunistas, os mais notáveis são: a existência da igualdade real (e não apenas jurídica); a eliminação de toda e qualquer forma de propriedade privada dos meios de produção; fim do Estado; e, principalmente, a extinção da exploração do trabalho.

Para os autores citados, os operários fariam uma revolução que deporia a burguesia e seu Estado do poder, instaurando uma espécie de governo ditatorial coletivo provisório, para assim, fazer a transição para a sociedade comunista. Trocando em miúdos, tal como a burguesia tomara o poder dos nobres com uma Revolução, a “francesa”, os operários, como classe, faria o mesmo. Entretanto, mais uma vez, a utopia não se realizou...

As tentativas soviética, chinesa e cubana (para citar somente as mais famosas), por razões que não cabem em uma postagem, estiveram longe de se efetivar. Em resumo, pode-se dizer que esses regimes de comunistas só tiveram o nome. Muitas vezes a miséria foi socializada e a exploração jamais foi extinta. Ela foi realizada pelo Estado. A historiografia mais recente já trata o regime soviético como uma espécie de “Capitalismo de Estado”.

Esses regimes também contribuíram para transformar o sonho de uma sociedade livre de desigualdades sociais, em pesadelos. A nobreza de espírito do comunismo foi transformada em repressivas ditaduras. E a o capitalismo soube muito bem se apropriar das inconsistências desses regimes para afastar qualquer tentativa de mudança do status-quo. Com isso, essa utopia naufragou sem ao menos chegar perto de ser realizada. E hoje, falar em comunismo chega a ser heresia... 

terça-feira, 28 de junho de 2011

Utopias que ficaram pelo caminho - PARTE 3: o Cristianismo

Após um breve intervalo de postagens, retomamos a série "Utopias que ficaram pelo caminho" com um tema que, por certo, gerará polêmica. A proposta dessa breve postagem não é fazer qualquer análise sobre o cristianismo, mas somente mostrar algumas distorções feitas a partir dessa doutrina.


Em nome do Deus cristão, a Igreja Católica cometeu inúmeras violências. Só durante a Idade Média, milhares de árabes foram mortos durante as Cruzadas e o fogo da "Santa Inquisição" queimou incontáveis mulheres e outros tantos pensadores. Até inofensivos bichanos foram exterminados por conta de uma suposta ligação com o demônio.

Atualmente, podemos citar sem grandes pesares, a grande influência do movimento neoprotestante no Brasil. A opulência e o apego a materialidade pregadas por alguns desses grupos é de fazer tremular os ossos de Lutero no túmulo. Para quem iniciou a ruptura com a Igreja Católica criticando a venda de indulgências...

Logicamente, não podemos nos esquecer de alguns seres humanos ímpares frutos do cristianismo, como Francisco de Assis e Teresa de Calcutá, que tanto ajudaram os mais necessitados. Também, não podemos relevar importantes grupos cristãos, como a Teologia da Libertação e os Anabatistas, que propuseram em diferentes momentos históricos, a retomada de valores cristãos como a igualdade, a simplicidade e a fraternidade.

Entretanto, isso jamais apagará as incontáveis atrocidades praticadas em nome de uma doutrina que em sua essência valorizada o amor e a igualdade entre os homens...


sexta-feira, 17 de junho de 2011

Ainda sobre as letras miúdas da postagem anterior...

...aqui vai uma singela canção em homenagem ao grupo social que mais cresce no país!



Classe Média 

de Max Gonzaga

Sou classe média
Papagaio de todo telejornal
Eu acredito
Na imparcialidade da revista semanal

Sou classe média
Compro roupa e gasolina no cartão
Odeio "coletivos"
E vou de carro que comprei a prestação
Só pago impostos
Estou sempre no limite do meu cheque especial
Eu viajo pouco, no máximo um pacote cvc tri-anual
Mais eu "to nem ai"
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não "to nem aqui"
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Mas fico indignado com estado quando sou incomodado
Pelo pedinte esfomeado que me estende a mão
O pára-brisa ensaboado
É camelo, biju com bala
E as peripécias do artista malabarista do farol
Mas se o assalto é em moema
O assassinato é no "jardins"
A filha do executivo é estuprada até o fim
Ai a mídia manifesta a sua opinião regressa
De implantar pena de morte, ou reduzir a idade penal
E eu que sou bem informado concordo e faço passeata
Enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal
Porque eu não "to nem ai"
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não "to nem aqui"
Se morre gente ou tem enchente em Itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta
Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida

P.S.2.: Essa canção retrata, infelizmente, o pensamento de boa parte da "classe média" brasileira que permeia a universidade pública. "Utopias" benéficas de melhorias sociais, claro, são deixadas de lado em prol da própria carreira ou da pura diversão. Ah, que saudades de ouvir Raul Seixas em festas... saudades de um tempo que nem vivi e que talvez nem chegou a existir. Apenas idealizei.  

sexta-feira, 10 de junho de 2011

V for Vendetta: herói ou terrorista?

Interrompendo, por hora, as postagens da série "Utopias que ficaram pelo caminho", vamos falar brevemente de um personagem da ficção. Trata-se de Codinome V, da Graphic Novel, V for Vendetta.



Criado na década de 1980 pelos lendários Alan Moore e David Gibons, V, apesar de usar capa e máscara, não é um herói convencional. Portanto, também não combate criminosos convencionais. Combate um Estado Totalitário através de métodos terroristas, explodindo prédios, implantando bombas e assassinando membros do partido com suas adagas afiadas. 

Por possuir um ideal anarquista, o personagem não pretende ficar um minuto sequer no poder. Muito pelo contrário. Tenta conscientizar as pessoas e envia para elas máscaras e capas, convidando-as para sua revolução. E, ao final, se sacrifica, explodindo o parlamento londrino num apoteótico encerramento ao som de 1812, de Tchaikovsky, deixando a reconstrução da sociedade nas mãos das pessoas, que o viam como um verdadeiro representante de suas vontades. 

São evidentes as referências a guerrilheiros subversivos (não só no sentido violento do termo) mais variados, que viveram (ou ainda vivem) e morreram por seus ideais. 

Resta a dúvida: se vivêssemos em uma ditadura e Codinome V realmente existisse, será que o veríamos como herói ou o delataríamos e o caçaríamos como terrorista?

Será que antederíamos seu chamado a revolução? 

E até, se ele conseguisse derrubar o sistema e o entregasse em nossas mãos, que outro construiríamos?

Tenho minhas dúvidas...





PS: Qualquer semelhança que essa postagem possa ter com a execração midiática de certo "terrorista" italiano refugiado no Brasil ou com a propaganda que circulou pela internet durante as últimas eleições para presidência do país não é mera coincidência. 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Utopias que ficaram pelo caminho - PARTE 2: O liberal capitalismo

O segundo texto da série de postagens que tratará das utopias que não se realizaram versará sobre o liberal capitalismo. Muitos de vocês podem estar se perguntando acerca da veracidade dessa afirmação, à medida que aparentemente o capitalismo está mais forte do que nunca e que ideais liberais são proclamados por todos os ventos e para todos os lados. 
Entretanto, será que o liberalismo se realizara em sua plenitude da maneira que foi proposto? Será que alcançamos o ideal proposto por teóricos liberais clássicos, como Adam Smith, John Stuart Mill e David Ricardo?

Para verificar essa questão, vamos nos ater para pressupostos liberais mais comuns fundados por Smith. O autor inglês, considerado pai do liberalismo econômico, defendia a não intervenção do Estado na economia. Dizia ele que a economia seria regulada por uma "mão invisível", ou seja, ela se auto-regularia, chegando sozinha a máxima eficiência. Dentre esses mecanismos auto-reguladores estão a "lei da oferta e da procura" e a "livre concorrência". Tanto o preço dos produtos quanto a necessidade de produção seriam determinados pelo quanto deles pode ser produzido e pelo quanto eles são procurados. E a livre concorrência faria com que as empresas buscassem desenvolver produtos de máxima qualidade pelos menores preços, pois o consumidor teria livre escolha. 

Porém, a livre concorrência foi substituída por trustes, cartéis e pelo capital aberto. E a lei da oferta e da procura, pelos nichos de mercado.

É comum desde o final do século XIX, empresas se fundirem em grandes trustes ou combinarem de preços e/ou domínios de mercado através de cartéis. E o capital aberto faz com que mesmas pessoas possam ter ações em diferentes empresas do mesmo ramo. Ou seja, várias empresas seriam controladas por mesmos donos. Como exemplo, uma mesma pessoa pode ser acionista da marca A e B de uma determinada bebida. Certamente, esse acionista não quer que as empresas concorram entre si. Por isso, são criados - ou aproveitados - os nichos de mercado, ou seja, produtos específicos, com características distintas, para diferentes grupos sociais. Ainda se utilizando do exemplo, um grupo economicamente favorecido pagaria mais por uma bebida de melhor qualidade, ao passo que um menos favorecido, pagaria menos por uma de qualidade inferior. Derrubada a livre concorrência, cai por terra o postulado do desenvolvimento de produtos de máxima qualidade por preços acessíveis, pois sempre terá um nicho para comprar produtos de diferentes níveis qualitativos. E isso faz com que o liberalismo se movimente com relativa independência. E que a melhoria da qualidade de vida que, em tese, levar-nos-ia a alcançar, jamais se realize em todas as esferas. 

De tempos em tempos, esse liberal capitalismo gera graves crises, como a de 1929. Na teoria, o emprego levaria ao consumo, que por conseqüência, levaria ao lucro. Na prática, criou-se um antagonismo nefasto entre esses postulados: a busca incessante por lucro leva a diminuição dos salários e dos empregos e, por conseqüência, do consumo. E se não há consumo, não há lucro. E a pobreza aparece como um produto do capitalismo.
Nas palavras do intelectual português João Bernardo, “o pobre, embora seja um fruto do capitalismo, é nefasto para o mesmo, porque nem é produtivo nem é consumidor. Ninguém trabalha bem com a barriga vazia. Um trabalhador ignorante não pode ser qualificado e, além disso, quem é pobre não compra nada, o que é péssimo para o mercado”.

E historicamente, as crises cíclicas e o impedimento de acordos empresariais nebulosos, só foram resolvidos por estados interventores. O que demonstra que a nobreza de ideal do liberalismo não se realizou.

Nem mesmo com sua nova roupagem, com o prefixo “neo”, que apareceu na década de 1980, para desmontar esse estado intervencionista e protetor, conhecido como wellfare state.

Mas tanto o neoliberalismo, quanto o estado do bem estar social, são utopias a serem tratadas em textos futuros...

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Utopias que ficaram pelo caminho - PARTE 1: A Modernidade Iluminista

Antes de discutirmos a possibilidade do surgimento de novas utopias, vale a pena revisitarmos algumas que ficaram pelo caminho. E esse texto inaugurará uma série de postagens sobre esse tema e cada texto versará sobre uma que não se efetivou.

E começaremos pelo projeto da modernidade marcado pelo Iluminismo, que sob a ótica de Sérgio Paulo Rouanet, não se efetivou plenamente. Segundo o autor, esse projeto, o qual chama de “civilizatório”, tem como ingredientes a: 1) universalidade, que visaria todos os seres humanos, independentemente de barreiras nacionais, étnicas ou culturais; 2) a individualidade, que consideraria os seres humanos como pessoas concretas e não como integrantes de uma coletividade e que se atribui valor ético positivo a sua crescente individualização; e 3) a autonomia, ou seja, a capacidade de pensar por si mesmo sem a tutela de religião ou ideologia, a agirem no espaço público e a adquirirem pelo seu trabalho os bens e serviços necessários à sobrevivência material.

Segundo Rouanet, esse projeto ficou pelo caminho, pois: 1) o universalismo foi sabotado por uma proliferação de particularismos – nacionais, culturais, raciais, religiosos; 2) a individualidade, apesar de parecer cada vez mais presente, é substituída pela coletividade do consumo; e 3) a autonomia intelectual baseada na visão secular do mundo está sendo deixada para trás pelo reencantamento do mundo e a autonomia política se transformou numa coreografia eleitoral encenada de tempos em tempos.

E Rouanet explicita bem seu projeto utópico de iluminismo:

“Para ela [utopia iluminista], todos os homens e mulheres, de todas as nações, culturas, raças e etnias, desprendendo-se da matriz coletiva e passando por intelectual, ou seja, o direito e a capacidade plena de usar sua razão, libertando-se do mito e da superstição, sujeitando ao crivo da razão todas as tradições, seculares ou religiosas, problematizando todos os dogmas, criticando todas as ideologias, e desenvolvendo livremente a ciência, o pensamento especulativo e criatividade artística, o que pressupõe um sistema cultural que tenha institucionalizado e dado condições efetivas de exercício à liberdade de pensamento e de expressão, a autonomia política, ou seja, o direito e a capacidade plena de participar dos processos decisórios do Estado, o que pressupõe um sistema político que tenha institucionalizado e dado condições efetivas de funcionamento à democracia e aos direitos humanos, e a autonomia econômica, ou seja, o direito e a capacidade plena de obter, sem prejuízos para os outros indivíduos e sem danos para o meio ambiente, os bens e serviços necessários ao próprio bem-estar, o que pressupõe um sistema econômico que tenha institucionalizado e dado condições efetivas de funcionamento aos direitos dos agentes econômicos, dentro dos limites compatíveis com os objetivos superiores da justiça social e da preservação da natureza.”

Como podemos observar, essa modernidade iluminista de Rouanet realmente não se efetivou. Pelos próprios argumentos do autor, ainda estamos distantes de alcançá-la. Entretanto, será que ela é válida? Será que é possível a universalidade sem sobrepujar culturas e particularidades de grupos sociais? Ou será que as particularidades são válidas, na medida em que algumas mulheres africanas têm seus clitóris mutilados e outras são apedrejadas por adultério em alguns países do Oriente Médio? Ou que, em nome de liberdade religiosa, animais são sacrificados de maneira descriminalizada? São questões que merecem maiores reflexões. De fato, a globalização coloca culturas frente a frente e choques acabam sendo inevitáveis.  

E é importante também refletirmos o fato de que as utopias surgem como projetos ideais de sociedade. E esses projetos, ao passarem da teoria para prática, são distorcidos por um lado ou para o outro. Como exemplo, na teoria, uma revolução seria o campo ideal para o surgimento do comunismo. E o catolicismo, para o anticomunismo. Mas na prática, a revolução russa se transformou em uma ditadura totalitária. Já entre os católicos brasileiros, desenvolveu-se na década de 1970, com Leonardo Boff, a Teologia da Libertação, que foi muito mais subversiva que muita revolução dita comunista no planeta. Mas destas outras utopias, falaremos em textos futuros...

Chimamanda Adichie e o papel dos historiadores no rompimento com a "História Única"

Chimamanda Adichie: O perigo de uma história única - parte 1


Chimamanda Adichie: O perigo de uma história única - parte 2


A excepcional fala da escritora nigeriana Chimamanda Adichie demonstra magistralmente os danos que podem ser causados pela transmissão de “histórias únicas”. Quando mais se conhece o outro, menor a chance de criar estereótipos, que se não chegam a ser inverdades, são incompletudes, que transformam qualquer História complexa e multifacetada em única, determinista. E acaba por reforçar preconceitos. E também supremacias de civilizações e/ou grupos sociais sobre outros.

E nesse ponto, cabe também a nós, historiadores, a responsabilidade de dar vozes a grupos que foram calados durante os processos, inclusive pelos nossos pares, que fizeram as chamadas “Histórias Oficiais” durante o século XIX.
Walter Benjamin já dizia que “o dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer e este não têm cessado de vencer”.
Superar essa história única, oficialesca, que prioriza famílias tradicionais, determinados grupos sociais ou civilizações, em detrimento da devida medida do papel edificador de outros atores sociais é tarefa primordial. Os trabalhadores, por exemplo, sempre tiveram seu papel de edificadores negados da memória, sendo suprimidos pelos apropriadores da obra alheia. Estes que aparecem como fundadores. Os apropriadores viram construtores e estes desaparecem. Desaparecem também em função de sua fraqueza em superar seu conjunto de amarras, entre as quais, as ideológicas, provindas de fenômenos como a construção dessa história única. E romper essas amarras é um importante passo rumo a uma sociedade menos excludente. 


João Paulo da Silva 

segunda-feira, 16 de maio de 2011

RESENHA DO LIVRO DE ERICH FROMM: TER OU SER? A importância da diferença entre ter e ser .

Ter é uma função normal de nossa vida. Para a existência humana é necessário que tenhamos e utilizemos certas coisas para a sobrevivência. Digamos que é uma necessidade existencial. Porém o que presenciamos atualmente são práticas que vão além do "ter para existência". Presenciamos uma ideologia consumista.

Erich Fromm acentua o quase desaparecimento da escolha entre ter e ser em uma sociedade em que se valoriza ter cada vez mais e só é reconhecido aquele que possui significativos bens de consumo, ou seja, " tem-se a impressão de que a própria essência de ser é ter, de que se alguém nada tem, não é"( p.35).

E essa não é uma discussão recente. Buda ensina que para se chegar ao mais elevado estágio  do desenvolvimento humano não devemos ansiar pelas posses. Jesus pregava: " pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la (LUCAS, 9:24-25). Já Eckhard ensina que ser nada é tornar-se aberto para conseguir riqueza espiritual. Para Karl Marx, nosso ideal deve consistir em ser muito e não ter muito.

Antropólogos e psicanalistas também tendem a demonstrar que ter e ser são modos fundamentais de existência que determinam as diferenças entre caracteres dos indivíduos e caráter social. 

O sentimento de ter é característica da sociedade industrial ocidental, na qual o dinheiro, fama, poder são temas dominantes. Já sociedades menos alienadas que não foram afetadas pelas idéias modernas de progresso industrial, são menos afetadas pela ideologia do "ter". 

Pode-se observar que essas mudanças afetaram também a linguagem. As mudanças idiomáticas acarretaram mudanças de ênfase nos verbos "ter" e "ser", um crescente emprego de substantivos e decrescente emprego de verbos. Ao exprimir uma atividade emprega-se o "ter" relacionando-o com substantivo, emprego errôneo da língua, pois atividades não podem ser possuídas, somente vividas.

A expressão "ter" indica incorporação, posse e não esta relacionada ao modo de identidade existencial, mas nos hábitos lingüísticos da sociedade moderna, pois " os consumidores modernos se identificam com o ato de incorporação, eu sou aquilo que tenho e consumo"( p.45).

A ideologia do "ter mais" e "querer sempre mais" se expressa no consumo. Consumir é uma forma de "ter" no sentido de posse, considerada das mais importantes na atual sociedade, pois ao consumir  tem-se um alivio instantâneo da angústia, sentimento de vazio de identidade, impotência existencial e moral.

O homem atual, consumista, não se reconhece como transformador  e criador de sua realidade, digno de si mesmo para mudar a realidade sofrida em que se encontra, rodeado de conformismo e egoísmo. 
O crescimento da sociedade de consumo faz com que o homem aperfeiçoe técnicas de produção e tecnologias. E se esqueça do aperfeiçoamento do ser...


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


FROMM, E. A importância da diferença entre ter e ser. In:______. Ter ou Ser? 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. cap. 1.






O vídeo-clip da banda musical SLIPKNOT  ilustra bem o tema discutido no texto.
Observe a relevância da arte popular como um movimento crítico:







REFERÊNCIA DO VÍDEO-CLIP



quarta-feira, 4 de maio de 2011

Era das Utopias, vídeo de Silvio Tendler



 O vídeo relata, entre outras coisas, as consequências do capitalismo e do socialismo o século XX. Bem como a crise contemporânea pós queda do socialismo prático, em 1989. Salienta, portanto a necessidade de novas Utopias.


"Salvar o planeta dos danos causados pela Utopia Capitalista e pela Utopia comunista é a nova Utopia"
                             Silvio Tendler

É certo que o comunismo não se efetivou, na prática, como pretendiam os teóricos. Mas será que o capitalismo, sob a égide do liberalismo de Adam Smith, se efetivou?


REFERÊNCIA DO VÍDEO

http://www.youtube.com/watch?v=fi_PF9UtcO4

A Finalidade da Utopia

Muitos questionam a necessidade de Utopias, e quais são seus benefícios para a humanidade. Buscaremos responder, apontar, brevemente, uma de suas finalidades.

Utopias nos fazem pensar o mundo, refletir sobre seus problemas e buscar melhorias. É em si um convite à filosofia.


A palavra em questão aparece com frequência nos dicionários como "algo irrealizável". Entretanto, para João Baptista Herkenhoff, em de Direito e Utopia, a palavra deriva do grego, e significa "que não existe em nenhum lugar" e se configura como "a representação daquilo que não existe ainda, mas que poderá existir se o homem lutar para sua concretização"


É claro que se a utopia se realizar, esse "lugar passa a existir". Portanto, ela deixaria de ser utopia. Pensamos que a questão primordial não se configura, ao menos em principio, na realização total dessas concretizações. Mas que elas tem função de guiar, de fornecer um "norte". A simples busca de um ideal utópico (mesmo que a possibilidade de sua realização for questionável) faz com que nos aproximemos desse ideal, mesmo que  minimamente. E essa aproximação, se não é exatamente o que buscamos, já pode deixar as coisas melhores do que estão. Ou não. Pois as práticas humanas não são facilmente teorizável. E muito menos previsível. Mas isso será melhor abordado em postagens futuras...                                          




Referências Bibliograficas

LACROIX, Jean-Yves. A Utopia. Um convite à filosofia. Rio de janeiro :Jorge Zahar editora, 1996.


HERKENHOFF, João Baptista. Direito e Utopia. 5ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sejam bem vindos

"No fundo de cada utopia não há somente um sonho; há também um protesto" Oswald de Andrade


Caros leitores,

é evidente que vivemos tempos sombrios. A humanidade passa por uma grande crise existencial. Deprimidos, nos afundamos no consumismo e nos agarramos na esperança que a tecnologia nos redimirá. Um pouco pessimista essas primeiras linhas para um texto inaugural de um blog? Certamente sim. Primeiras linhas estas que já devem ter causado repulsas e até afastado leitores discordantes? Também. Tudo bem. A você que continua, concedo-lhe o direito de discordar dessas palavras. Entretanto, devemos concordar em um ponto: as utopias desapareceram. Desde o desvirtuamento  das propostas alternativas ao capitalismo, que transformou nobres ideais em fortes ditaduras estatais, o mundo se acinzentou. E o marco histórico dessa descoloração foi a queda do muro de Berlim. Com ele, caiu um sonho. Não o sonho soviético, que foi o principal responsável pela queda. Mas o sonho de toda uma geração de pessoas que sonhavam com uma sociedade sem desigualdades.
E agora? Nos resta algo? Será que o antigo sonho realmente acabou? Será que somos capazes de criar novas utopias que nos resolvam problemas que precisam de resoluções imediatas?

Se busca aqui respostas messiânicas, não é aqui que encontrará. Esse espaço não tem a pretensão de fundar uma nova utopia. Afinal, quem somos nós para tal. Entretanto, esse blog fomentará discussões acerca de temas diversos, analisando e comentando desde cultura geral até conjunturas políticas, buscando encontrar, se não respostas, outras perguntas a inúmeras questões. Sempre com um viés crítico, afinal, de nada adianta sermos mais alguns daqueles que correm pela estrada que leva a lugar nenhum. E mesmo que também não cheguemos a lugar algum, pelo menos tentaremos outros caminhos. Pois, como diz Oswald de Andrade na epígrafe desse texto, "no fundo de cada utopia não há somente um sonho, mas também um protesto".

E seja para nos auxiliar diretamente a buscar outros caminhos. Ou seja para nos tentar mostrar que já estamos no caminho certo, SEJAM BEM VINDOS!!!