quinta-feira, 30 de junho de 2011

"Socialismo" x "Capitalismo"

A proposta do vídeo retoma discussões salientadas no blog,  faz uma análise entre o capitalismo e o socialismo real (ou capitalismo de Estado). Sua intenção questionar ambos.







REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

http://www.youtube.com/watch?v=GzgX3a0QVkM&feature=related

Entrevista de Aleida Guevara à Folha de São Paulo - PARTE 2 (comentários dos blogueiros)

Os comentários de Aleida, que além de filha de "Che", é militante de base do Partido Comunista Cubano, são muito interessantes e nos levam a várias reflexões. Bem como as perguntas da repórter da Folha de São Paulo, Eleonora de Lucena, que demonstram uma certa tendência - óbvia - antissocialista.

Faremos então um comentário relacionado a cada grupo de perguntas e respostas reproduzidas na postagem anterior. A entrevista não foi apresentada em sua totalidade, mas pode ser lida em


Nas primeiras perguntas, ao discutir a crise pela qual passa a economia cubana, Aleida ratifica o que a historiografia discute atualmente sobre os regimes políticos ditos socialistas. A exploração pode não ter acabado totalmente. Os meios-de-produção não são coletivos e sim Estatais. Logo, os cubanos trabalham para o Estado e, pelo que consta, indiretamente para toda a sociedade. E a fase da "ditadura do proletariado", que seria apenas uma etapa da revolução, ainda não foi abandonada.

A própria Aleida se diz temerosa quanto as reformas sociais feitas em Cuba, que vão no sentido da permissão de propriedade privada e dos trabalhadores livres. A pediatra teme que esses trabalhadores livres se transformem em "pequenos-burgueses", como dizia Marx. Ou, trocando em miúdos, que se crie uma classe média, individualista e sem consciência social. Aleida parece não confiar plenamente no espírito humano e certamente pensa que o homem novo que propunha Lukács ainda não está pronto.

É interessante também a insistência da entrevistadora na direção de atestar que o regime cubano é ditatorial. Nesse sentido Aleida demonstra que há sim algum grau de democracia na Ilha. E aponta coloca o dedo em uma ferida da nossa democracia pluripartidária, que depende de escolhas partidárias prévias e, na maioria das vezes, de grandes montanhas de capital. Partidos maiores e mais ricos, mais tempo e recursos para uma boa propaganda política na TV. E isso claramente se traduz em mais votos e vitórias. É evidente que para nós o regime de Fidel é ditatorial em certa medida. Mas até que ponto o nosso modelo é tão democrático? 

E ao discutir os presos políticos, Aleida aponta outro dedo em nossa ferida. Por que nós tratamos os presos políticos que lutaram contra o regime de Cuba como vítimas e os que lutam contra o nosso, como o caso de do italiano Cesare Battisti, como terrorista e assassino? Em um tempo de tanto relativismo, por que ainda insistimos em apontar o dedo para as feridas alheias se as nossas ainda sofrem de uma hemorragia incessante? Ou será que podemos ser relativistas quanto a questões culturais? 

O fato é que parecemos sofrer de uma analgesia congênita. Estamos entorpecidos, cegos, fechados em bolhas de interesses individuais. Estudamos, trabalhamos, compramos, bebemos, fumamos, festejamos, assistimos... E vamos para as ruas protestar contra a homofobia  e/ou a favor da liberdade do uso da maconha; ou paramos a Paulista para marchar em prol da nossa religiosidade, que é homofóbica e contra qualquer tipo de drogas. Ou vamos às ruas (e urnas) para salvar a natureza, mas só andamos de carro e trocamos de celular todo semestre. As lutas estão, de fato, particularizadas. Então, as novas utopias também estão individualizadas. Muito, é claro, por culpa da "velha" não englobar (e até excluir) possíveis grupos interessados e afetados por esse sistema excludente. Com efeito, pensamos ser necessário, primeiro, acabar com a analgesia congênita que nos assola. Precisamos reconhecer o inimigo. Saber contra quem lutar. Apropriando-se de uma metáfora da ficção científica cinematográfica, precisamos saber que a luta é fora da Matrix. Mas primeiro, precisamos saber que estamos dentro dela. Mas isso é difícil, a medida que o mundo real é muito mais cinza do que o virtual e a coxa de frango, apesar de falsa, é mais saborosa que a gororoba nutritiva que se come na realidade....

Assim, encerramos essa postagem com um pequeno texto de João Bernardo, que é polêmico e resume nossas idéias:


A propósito do filme de Chico Teixeira, A Casa de Alice

João Bernardo - Domingo, 6 Abril, 2008

Tive um amigo que distinguia a pobreza e a miséria. A pobreza, dizia ele, resolve-se com dinheiro. A miséria é outra coisa. Pobreza é não ter que comer, viver num barracão esburacado ou dormir no abrigo de uma caixa de multibanco, ter a roupa em farrapos, e com dinheiro compra-se comida, calças e camisa e aluga-se um quarto.
A miséria não se resolve com dinheiro. Miséria é não ser escutado por ninguém, não decidir a própria vida, chegar a casa, olhar para quem lá mora e já não ver neles aquilo que outrora se julgava, viver isolado numa teia de conhecimentos superficiais, amigos de café para discutir o futebol, colegas de trabalho que talvez sejam orelhas do patrão, a miséria é não confiar nos outros nem em si próprio, é viver uma vida sem sentido.

Existe a riqueza, claro, mas essa têm-na os capitalistas e não significa só dinheiro, porque a riqueza representa mais dinheiro do que aquele que é necessário para viver muitíssimo bem. Riqueza significa acima de tudo poder, a capacidade de ordenar as próprias vidas e de mandar nas vidas alheias. Enquanto a miséria significa, mesmo de barriga cheia, não dispor de poder nenhum sobre nada, obedecer e não entender aquilo a que se obedece. A miséria, em suma, é ser joguete da história, sem conseguir travar a engrenagem. A miséria é ter inveja dos patrões em vez de lhes ter ódio, é querer subir no sistema em vez de o derrubar, é desconfiar dos colegas em vez de se unir a eles, é viver isolado sem saber que a história existe e que podemos participar nela. A miséria é dizer sim quando se deve dizer não.

O ideal do capitalismo, o paraíso que ele nos promete, consiste em acabar com a pobreza e universalizar a miséria. Paradoxalmente, o pobre, embora seja um fruto do capitalismo, é nefasto para o capitalismo, porque nem é produtivo nem é consumidor. Ninguém trabalha bem com a barriga vazia, um trabalhador ignorante não pode ser qualificado e além disso quem é pobre não compra nada, o que é péssimo para o mercado. Enquanto o trabalhador condenado à miséria compra o que pode e quando deve, e trabalha tal como lhe mandam. É ele o cidadão exemplar.

Dentro do capitalismo não existe saída para a miséria, porque os trabalhadores só adquirem uma dimensão histórica, só entram na história, quando combatem o capitalismo. É então, na preparação de uma greve − para me limitar a um exemplo simples − na mobilização dos colegas, nas discussões, na formação de um piquete, que os olhos se iluminam e a pessoa sente que alguma coisa mudou. Agora temos a capacidade de falar alto e de obrigar os patrões e as autoridades a escutarem-nos, invertemos a engrenagem, somos história. Saímos da miséria.


Entrevista de Aleida Guevara à Folha de São Paulo - PARTE 1

A pediatra Aleida Guevara, filha de um dos maiores mitos comunistas, Ernesto “Che” Guevara, deu uma longa entrevista à Folha de São Paulo, na qual destaca a necessidade e as dificuldades da manutenção do sistema socialista em Cuba. Essa entrevista coincidentemente vem ao encontro a postagem de ontem, sobre o comunismo. Segue abaixo os principais trechos:


E como vão as coisas em Cuba?

Estamos em um momento de buscar solução a problemas reais que temos tido durante muito tempo. Há problemas atuais que o país vive por causa da crise econômica, que atinge todos os países do mundo. Estamos discutindo os problemas com todo o povo, analisando-os nos locais de trabalho, nos bairros. O congresso do partido analisou tudo o que resultou dessas reuniões populares e se chegou a um consenso de que vamos fazer algumas mudanças na economia familiar. Resolver um problema de família, de pessoas que estão sem emprego neste momento porque o Estado não pode seguir sustentando pessoas que trabalham sem produzir. Quando perdemos o campo socialista europeu, Cuba sofreu uma crise brutal e o Estado amparou todo mundo durante todo esse tempo. Agora a situação da economia interna melhorou. Portanto há possibilidades reais para que essas pessoas possam trabalhar independentemente. Não queremos desamparar os que não estejam trabalhando para o Estado. Por isso é que vem essa possibilidade de trabalho individual. Porque nós, pela Constituição, teríamos que analisar quais são os itens da Constituição atual que se chocariam com essas mudanças. Por isso toda essa análise popular, profunda. Se é necessário mudar algum item da Constituição, que o povo saiba o que se está fazendo e porquê. E o plebiscito que se tenha que fazer será faz mais rápido e mais fácil.

O que teria que mudar na Constituição?

Foi acordado na Constituição que Cuba é uma sociedade socialista. Dentro dessa sociedade socialista há normas, regras. Quando se diz agora que há pessoas que vão trabalhar por conta própria, pode ser alugar sua casa, o que não existia. Essas pessoas que agora estão trabalhando por conta própria, se quiserem outras pessoas para trabalhar, que seja pago um salário justo, por lei. Por exemplo: se quiseres alugar um quarto da tua casa e empregaste alguém para fazer a limpeza. Antes esta pessoa não estava protegida por nenhuma lei. Agora, com as mudanças, essa pessoa estará protegida também pelas leis do Estado cubano. Essas leis precisam ser implementadas na Constituição.


O último congresso do partido abriu possibilidade da propriedade privada de imóveis e carros...


Digamos que não é propriedade privada. Eu, por exemplo, se paguei por um carro, ele é meu. O problema é que eu não tinha direito de vendê-lo. Agora tenho. O que mudou é que é permitido ao cidadão que é dono de um carro vendê-lo legalmente. É sua propriedade, é seu direito. Como em relação a casas. Se uma casa é legalmente tua, tu podes vendê-la.


Mas isso é reconhecer a propriedade privada.


Dentro do que já existia, na propriedade individual. Que podes chamar de privada, se quiseres. É tua. O problema é legalizar essa propriedade para que você possa usá-la para o que quiseres.


A sra. não acha que isso se conflita com o princípio socialista?


Não. Isso não tem nenhum tipo de problema com os princípios socialistas. A questão não está em vender a tua casa ou o teu carro ou trocá-lo. Isso me parece que é muito bom que possamos fazê-lo livremente, sem nenhum tipo de trava. A questão está em que agora há trabalhadores por conta própria. Esses trabalhadores vão buscar o seu benefício pessoal. O meu temor pessoal como cidadã a pé eu não tenho nada a ver com a direção do governo cubano; sou uma médica cubana meu temor é que as pessoas que comecem a trabalhar para si mesmas percam um pouco a questão social, a consciência social. Vivendo numa sociedade socialista, nós trabalhamos para um povo. Quando tu começas a trabalhar para o teu bolso, para o teu bem estar pessoal, temos o risco de perder essa conexão social que mantivemos por toda a vida. Essa é a minha preocupação pessoal. O Estado socialista e segue sendo socialista porque não há privatização nos grandes meios de produção. Isso não se tocou e não se vai tocar. O povo cubano segue sendo dono de tudo o que se produz no país. Podes ser dono do que tu fazes em tua casa, um restaurante, um salão de beleza, serviços. Mas os grandes meios de produção, tudo está com o Estado, que, portanto, é do povo. Nesse sentido não há nenhum tipo de mudança.


As reformas foram feitas para tirar do Estado o peso de pessoas que..

Exatamente. De pessoas que vão ficar sem trabalho pelo Estado, porque o Estado não pode seguir sustentando essa situação. Temos feito melhorias econômicas. Essas pessoas ficam livres de trabalhar para o Estado e ter o seu próprio trabalho. E o Estado sai dessa tensão de manter alguém que não estava produzindo.


O seu temor é que essa reforma, que pode ser lida como mais 
privatizante, afete a consciência social?


O homem pensa segundo vive. Essa é a preocupação, simplesmente. Se você está vivendo somente interessado em melhorar a tua casa, em melhorar a quantidade de dinheiro que tem no bolso, em melhorar a vestimenta, você se esquece que a escola infantil da esquina, onde seus filhos e netos estudam, precisa de uma mão de pintura. Você será capaz de deixar um pouco desse dinheiro para doar à escola? Se você é capaz de fazê-lo, eu calo a boca e sou feliz. Essa é a minha preocupação: que você perca essa perspectiva, que não se preocupe com a perspectiva de comunidade social, que é o que nós somos e pelo que seguimos vivendo.


Como a sra. responde aos que dizem que Cuba é uma ditadura, não há liberdade de imprensa?


É simplesmente uma falta de conhecimento total da realidade cubana. Nós temos eleições populares, muito mais democráticas do que qualquer outro país. Porque é o povo que elege diretamente os seus candidatos. Desde a base. Não há organizações políticas que digam: é esse, esse. É o povo quem diz. Uma reunião de vizinhos diz: fulano e fulano. E explicam porque propõem. Cinquenta por cento mais um da assembleia reunida têm que dar a aprovação. Se a pessoa é aprovada, ninguém pode derrubar essa aprovação. É uma decisão do povo. Então esse passa a ser candidato.


Como justificar a questão da oposição, dos presos políticos, as 
damas de branco?


Meu Deus! O conceito de preso político é presos por suas ideias. Em Cuba não existem esses presos. Em Cuba existem presos por ações contra o povo. Ações de delito. Colocar, por exemplo, veneno na água de uma escola infantil é terrorismo. Esse está preso. Incendiar a telefonia de Cuba. Isso o que é? É uma ação terrorista.


Então não existem presos políticos; existem terroristas presos?

Existem terroristas. Existem os que fazem isso do ponto de vista econômico também. Porque vivemos com o bloqueio dos EUA. Nos últimos anos, eles têm aplicado a lei do bloqueio de outras formas mais sofisticadas.


Como é a sua vida? Como é conviver com a herança de Che?

Tenho 50 anos, duas filhas. A maior tem 22 anos, acabou de se graduar em economia em Havana. A segunda tem 21 anos e está terminando seu terceiro ano de medicina. É o tesouro maior que tenho como ser humano. Trabalho muito com crianças, sou pediatra. Trabalho também numa escola para crianças com necessidades especiais em Havana. Que também me fazem muito feliz, me fazem melhor ser humano todos os dias. Pois são crianças muito especiais, com uma grande capacidade para amar. Trabalho também em casas de amparo. Dou consultas como médica, trabalho no centro de estudo Che Guevara, levando a imagem de Che. Meu salário é como medica, especialista de primeiro grau.


Há machismo em Cuba?


Sim, há algo. Superamos muito com a revolução. Fizemos um giro de 180 graus. Não é possível arrancar tudo de uma vez. É lento. É possível fazer mudanças econômicas e sociais num estalar de dedos, mas mudanças mentais levam tempo. A geração das minhas filhas é muito mais forte, Sabem quem são e para onde vão. Também os homens têm hoje um conceito muito mais aberto. Temos avançado muito. A dupla jornada de trabalho da mulher vai diminuindo.


Como lidar com o mito Che?


Mito, não. Quando falas, por exemplo, de Cristo, é muito distante do ser humano, não sabes se existiu ou não. Che não pode converter-se num mito. Ele era um homem como qualquer um de nós. Isso é o que o faz bonito, completo. Que sendo humano, com todos os problemas e deficiências humanas, soube ser um ser humano melhor. É o que queremos que nossos filhos entendam, aprendam. E que consigam seguir esse exemplo de vida, de ação, de honestidade, de integridade como ser humano.



quarta-feira, 29 de junho de 2011

Utopias que ficaram pelo caminho - PARTE 4: o comunismo

Como já citado no texto de inauguração do blog, consideramos o fracasso do regime soviético e a queda do Muro de Berlim como marco para o fim da última grande utopia humana até então.

O comunismo é um pressuposto filosófico que teve seu sentido teórico impulsionado por Karl Marx e Friedrich Engels, no século XIX. Entre os pressupostos comunistas, os mais notáveis são: a existência da igualdade real (e não apenas jurídica); a eliminação de toda e qualquer forma de propriedade privada dos meios de produção; fim do Estado; e, principalmente, a extinção da exploração do trabalho.

Para os autores citados, os operários fariam uma revolução que deporia a burguesia e seu Estado do poder, instaurando uma espécie de governo ditatorial coletivo provisório, para assim, fazer a transição para a sociedade comunista. Trocando em miúdos, tal como a burguesia tomara o poder dos nobres com uma Revolução, a “francesa”, os operários, como classe, faria o mesmo. Entretanto, mais uma vez, a utopia não se realizou...

As tentativas soviética, chinesa e cubana (para citar somente as mais famosas), por razões que não cabem em uma postagem, estiveram longe de se efetivar. Em resumo, pode-se dizer que esses regimes de comunistas só tiveram o nome. Muitas vezes a miséria foi socializada e a exploração jamais foi extinta. Ela foi realizada pelo Estado. A historiografia mais recente já trata o regime soviético como uma espécie de “Capitalismo de Estado”.

Esses regimes também contribuíram para transformar o sonho de uma sociedade livre de desigualdades sociais, em pesadelos. A nobreza de espírito do comunismo foi transformada em repressivas ditaduras. E a o capitalismo soube muito bem se apropriar das inconsistências desses regimes para afastar qualquer tentativa de mudança do status-quo. Com isso, essa utopia naufragou sem ao menos chegar perto de ser realizada. E hoje, falar em comunismo chega a ser heresia... 

terça-feira, 28 de junho de 2011

Utopias que ficaram pelo caminho - PARTE 3: o Cristianismo

Após um breve intervalo de postagens, retomamos a série "Utopias que ficaram pelo caminho" com um tema que, por certo, gerará polêmica. A proposta dessa breve postagem não é fazer qualquer análise sobre o cristianismo, mas somente mostrar algumas distorções feitas a partir dessa doutrina.


Em nome do Deus cristão, a Igreja Católica cometeu inúmeras violências. Só durante a Idade Média, milhares de árabes foram mortos durante as Cruzadas e o fogo da "Santa Inquisição" queimou incontáveis mulheres e outros tantos pensadores. Até inofensivos bichanos foram exterminados por conta de uma suposta ligação com o demônio.

Atualmente, podemos citar sem grandes pesares, a grande influência do movimento neoprotestante no Brasil. A opulência e o apego a materialidade pregadas por alguns desses grupos é de fazer tremular os ossos de Lutero no túmulo. Para quem iniciou a ruptura com a Igreja Católica criticando a venda de indulgências...

Logicamente, não podemos nos esquecer de alguns seres humanos ímpares frutos do cristianismo, como Francisco de Assis e Teresa de Calcutá, que tanto ajudaram os mais necessitados. Também, não podemos relevar importantes grupos cristãos, como a Teologia da Libertação e os Anabatistas, que propuseram em diferentes momentos históricos, a retomada de valores cristãos como a igualdade, a simplicidade e a fraternidade.

Entretanto, isso jamais apagará as incontáveis atrocidades praticadas em nome de uma doutrina que em sua essência valorizada o amor e a igualdade entre os homens...


sexta-feira, 17 de junho de 2011

Ainda sobre as letras miúdas da postagem anterior...

...aqui vai uma singela canção em homenagem ao grupo social que mais cresce no país!



Classe Média 

de Max Gonzaga

Sou classe média
Papagaio de todo telejornal
Eu acredito
Na imparcialidade da revista semanal

Sou classe média
Compro roupa e gasolina no cartão
Odeio "coletivos"
E vou de carro que comprei a prestação
Só pago impostos
Estou sempre no limite do meu cheque especial
Eu viajo pouco, no máximo um pacote cvc tri-anual
Mais eu "to nem ai"
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não "to nem aqui"
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Mas fico indignado com estado quando sou incomodado
Pelo pedinte esfomeado que me estende a mão
O pára-brisa ensaboado
É camelo, biju com bala
E as peripécias do artista malabarista do farol
Mas se o assalto é em moema
O assassinato é no "jardins"
A filha do executivo é estuprada até o fim
Ai a mídia manifesta a sua opinião regressa
De implantar pena de morte, ou reduzir a idade penal
E eu que sou bem informado concordo e faço passeata
Enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal
Porque eu não "to nem ai"
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não "to nem aqui"
Se morre gente ou tem enchente em Itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta
Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida

P.S.2.: Essa canção retrata, infelizmente, o pensamento de boa parte da "classe média" brasileira que permeia a universidade pública. "Utopias" benéficas de melhorias sociais, claro, são deixadas de lado em prol da própria carreira ou da pura diversão. Ah, que saudades de ouvir Raul Seixas em festas... saudades de um tempo que nem vivi e que talvez nem chegou a existir. Apenas idealizei.  

sexta-feira, 10 de junho de 2011

V for Vendetta: herói ou terrorista?

Interrompendo, por hora, as postagens da série "Utopias que ficaram pelo caminho", vamos falar brevemente de um personagem da ficção. Trata-se de Codinome V, da Graphic Novel, V for Vendetta.



Criado na década de 1980 pelos lendários Alan Moore e David Gibons, V, apesar de usar capa e máscara, não é um herói convencional. Portanto, também não combate criminosos convencionais. Combate um Estado Totalitário através de métodos terroristas, explodindo prédios, implantando bombas e assassinando membros do partido com suas adagas afiadas. 

Por possuir um ideal anarquista, o personagem não pretende ficar um minuto sequer no poder. Muito pelo contrário. Tenta conscientizar as pessoas e envia para elas máscaras e capas, convidando-as para sua revolução. E, ao final, se sacrifica, explodindo o parlamento londrino num apoteótico encerramento ao som de 1812, de Tchaikovsky, deixando a reconstrução da sociedade nas mãos das pessoas, que o viam como um verdadeiro representante de suas vontades. 

São evidentes as referências a guerrilheiros subversivos (não só no sentido violento do termo) mais variados, que viveram (ou ainda vivem) e morreram por seus ideais. 

Resta a dúvida: se vivêssemos em uma ditadura e Codinome V realmente existisse, será que o veríamos como herói ou o delataríamos e o caçaríamos como terrorista?

Será que antederíamos seu chamado a revolução? 

E até, se ele conseguisse derrubar o sistema e o entregasse em nossas mãos, que outro construiríamos?

Tenho minhas dúvidas...





PS: Qualquer semelhança que essa postagem possa ter com a execração midiática de certo "terrorista" italiano refugiado no Brasil ou com a propaganda que circulou pela internet durante as últimas eleições para presidência do país não é mera coincidência.