Ter é uma função normal de nossa vida. Para a existência humana é necessário que tenhamos e utilizemos certas coisas para a sobrevivência. Digamos que é uma necessidade existencial. Porém o que presenciamos atualmente são práticas que vão além do "ter para existência". Presenciamos uma ideologia consumista.
Erich Fromm acentua o quase desaparecimento da escolha entre ter e ser em uma sociedade em que se valoriza ter cada vez mais e só é reconhecido aquele que possui significativos bens de consumo, ou seja, " tem-se a impressão de que a própria essência de ser é ter, de que se alguém nada tem, não é"( p.35).
E essa não é uma discussão recente. Buda ensina que para se chegar ao mais elevado estágio do desenvolvimento humano não devemos ansiar pelas posses. Jesus pregava: " pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la (LUCAS, 9:24-25). Já Eckhard ensina que ser nada é tornar-se aberto para conseguir riqueza espiritual. Para Karl Marx, nosso ideal deve consistir em ser muito e não ter muito.
Antropólogos e psicanalistas também tendem a demonstrar que ter e ser são modos fundamentais de existência que determinam as diferenças entre caracteres dos indivíduos e caráter social.
O sentimento de ter é característica da sociedade industrial ocidental, na qual o dinheiro, fama, poder são temas dominantes. Já sociedades menos alienadas que não foram afetadas pelas idéias modernas de progresso industrial, são menos afetadas pela ideologia do "ter".
Pode-se observar que essas mudanças afetaram também a linguagem. As mudanças idiomáticas acarretaram mudanças de ênfase nos verbos "ter" e "ser", um crescente emprego de substantivos e decrescente emprego de verbos. Ao exprimir uma atividade emprega-se o "ter" relacionando-o com substantivo, emprego errôneo da língua, pois atividades não podem ser possuídas, somente vividas.
A expressão "ter" indica incorporação, posse e não esta relacionada ao modo de identidade existencial, mas nos hábitos lingüísticos da sociedade moderna, pois " os consumidores modernos se identificam com o ato de incorporação, eu sou aquilo que tenho e consumo"( p.45).
A ideologia do "ter mais" e "querer sempre mais" se expressa no consumo. Consumir é uma forma de "ter" no sentido de posse, considerada das mais importantes na atual sociedade, pois ao consumir tem-se um alivio instantâneo da angústia, sentimento de vazio de identidade, impotência existencial e moral.
O homem atual, consumista, não se reconhece como transformador e criador de sua realidade, digno de si mesmo para mudar a realidade sofrida em que se encontra, rodeado de conformismo e egoísmo.
O crescimento da sociedade de consumo faz com que o homem aperfeiçoe técnicas de produção e tecnologias. E se esqueça do aperfeiçoamento do ser...
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FROMM, E. A importância da diferença entre ter e ser. In:______. Ter ou Ser? 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. cap. 1.
O vídeo-clip da banda musical SLIPKNOT ilustra bem o tema discutido no texto.
Observe a relevância da arte popular como um movimento crítico:
REFERÊNCIA DO VÍDEO-CLIP
Interessantíssima "resenha";)
ResponderExcluirGostei imensamente daquio,
abraço e sigo...
Perfeito!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAlguém poderia me dizer qual é a música a qual o vídeo refere? Pois estou fazendo um trabalho e achei interessante apresenta-la a turma, mas o vídeo não esta mais disponível então não consigo saber qual seria a música. Obrigado!
ResponderExcluirVermillion! Está música tem duas partes, vale a pena pesquisar o significado.
ExcluirTexto muito bem escrito, parabéns! Na minha opinião, faltou um pouco mais falar sobre citações e teses do livro, fora isso está ótimo. Obrigado.
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